terça-feira, 2 de outubro de 2012

Teologia da Espiritualidade


ESPIRITUALIDADE:

Quando se fala de espiritualidade, não somente no passado, mas ainda hoje, se entende como sendo uma experiência religiosa desligada do corriqueiro da vida, longe do que fazemos. Refere-se na verdade, a práticas que ocupam um tempo e um espaço isolado de tudo o mais que fazemos no dia-a-dia.
A espiritualidade não é parte de nossa vida, ela é na verdade, a nossa vida. Por isso não podemos separar a vida espiritual, de tudo que nos rodeia. .não deveria haver a separação entre as coisas de cima e as de baixo, pois isso, parte ou separa as pessoas.
É bem verdade também, que sem a oração não há vivencia espiritual, porém a vida espiritual não é somente a oração. A vida espiritual é na verdade uma fonte inesgotável, que se alimenta da fonte maior que é o próprio Deus.
A espiritualidade á uma dimensão fundamental da vida. Assim sendo, entendemos espiritualidade a partir da oposição morte- vida e não da oposição alma-corpo. Na espiritualidade não está em jogo a “vida da alma” ameaçada pelo corpo, mas a vida do homem ameaçada pela morte. O homem espiritual não é aquele que busca através das coisas da alma, mas é o homem que guiado pelo espirito de Deus, procura este Deus, dedicando-se a construir a vida.
A espiritualidade é a experiência de Deus na realização plena da vida. A nossa espiritualidade é a experiência de fé no Deus vivo que nos da vida e nos liberta da morte. É a experiência do Deus da vida, que não é a de um Deus invisível, abstrato, mas é a experiência de um Deus transcendente, criador, poderoso e libertador na vida histórica do homem. É neste sentido que podemos afirma que a espiritualidade não é somente um momento num processo da libertação, mas, a força impulsionadora da experiência de Deus. Significa portanto, o encontro com o Deus vivo na vida de cada dia. Tal vivencia, tem sua razão de ser, na oração e no compromisso com a construção da vida humana. Deste modo, oração e compromisso com a construção da dignidade humana, não são praticas alternativas, ambas exigem-se e reforçam-se mutuamente. Uma não subsiste sem a outra. A oração não é uma fuga, mas um modo fundamental de seguir Jesus, que nos torna sempre disponíveis para o encontro com o Pai e para a exigência da missão. 
Espiritualidade e Oração:
falar da experiência de Deus na vida espiritual da pessoa humana, leva-nos necessariamente, ao campo da mística e da oração. Por isso traçaremos agora, em poucas palavras, a relação que há entre a espiritualidade e a oração. Apontaremos também, a dimensão transformadora e o compromisso que há de brotar, de uma vida espiritual alicerçada na oração.
Sem dúvida nenhuma, foi a tradição da vida religiosa, que privilegiou a oração como o lugar da experiência de Deus. Assim sendo, a missão era vista apenas, como o final do processo que começava com a oração. Esta por sua vez, motivava e alimentava a missão. A relação entre oração e missão, oração e ação, acontecia numa só direção, cujo ponto de partida era sempre a oração. No entanto hoje, vamos compreendendo a íntima relação que há entre a oração e a ação, nas duas direções. Portanto, a partir de uma espiritualidade encarnada no hoje de nossa história, é possível afirmar que: “a oração leva ao compromisso e o compromisso leva de volta à oração”.
A oração não pode ser, e nem deve ser alienada, ela deve sim, se converter em atitude vital, de maior qualidade. O que significa dizer, que a pessoa espiritual( pessoa na sua totalidade) ou de oração, deve e tem por missão, viver mais humanamente, criando relações humanas-humanizantes, respeitando e lutando sempre pela promoção da dignidade da pessoa humana.
O documento de Puebla no número 727, se refere a uma oração que de fato leve a pessoa à um compromisso libertador, bem como, de uma vida também pautada em momentos fortes de oração, intimidade com Deus. Desse modo, a oração, continua sendo o centro da experiência de Deus. Hoje também somos atraídos à uma nova compreensão que diz: é possível fazer uma profunda experiência de Deus, dentro do compromisso libertador, que se expressa como uma verdadeira contemplação na ação, oração na vida, contemplação ativa e compromisso contemplativo, no qual, deus é encontrado, no coração da vida humana. Nesse ponto, vemos que a vivência da realidade, não apenas exige de nós momentos fortes de oração, onde se encontra Deus e ao mesmo tempo se fortalece para a ação, sobretudo, torna-se o lugar privilegiado, da experiência de Deus. Na verdade, a vivência plena da espiritualidade, o encontro com Deus, acontece no próprio trabalho que pretende transformar a realidade, no compromisso com os crucificados da história, na solidariedade com os desfigurados de ontem e de hoje, na partilha de seus sonhos, na caminhada comum, a ponto de partilhar se necessário, até o seu destino no martírio o que na tradição Bíblica chamamos do culto à Deus, na prática da justiça.
Nesse contexto, queremos enfatizar que o centro da experiência de Deus passa a ser a missão, entendida a partir do mistério de Jesus Cristo. Pois ele, sendo o enviado do pai, entrega-se totalmente à causa do reino, realizando a sua missão, em plena comunhão com o pai que o envia. É a luz do projeto de Deus, que Jesus contempla o mundo, a realidade do ser humano, comprometendo-se radicalmente e incondicionalmente, ao anúncio do reino. Dai ser a sua vida, a efetivação da chegada do reino, por isso ele afirmava:” o reino de Deus já está entre vós”. Tudo isso ele fazia imbuído de uma relação intrisica com o pai. Relação essa, motivada por uma mística profunda, que o levava ao mesmo tempo ao encontro dos desfigurados da história. Esse diálogo intimo com o pai, brota do coração e do compromisso. Isso percebemos claramente, quando Jesus se retirava para orar, pois o conteúdo central da sua oração, é o reino, o plano de Deus sobre o mundo e sobre o destino humano, bem como, a sua fidelidade a esse plano. assim a oração não é instrumento para a missão, mas na verdade ela expressa, a comunhão interior com Deus, que dá sentido e consistência não somente à nossa vida, mas também, à própria missão.
Para concluir este tópico gostaría de frisar, que tanto a oração, quanto a espiritualidade, numa profunda experiência de Deus, são na verdade atitudes de vida. A espiritualidade e oração, consiste, em viver diante de Deus, contemplando e compreendendo a vida, à luz do seu projeto.
A oração e a espiritualidade, são nesse sentido vistas, como atitudes de vida que não excluem a necessidade de momentos fortes do que chamamos de oração pessoal, silêncio interior, intimidade com o pai de Jesus e nosso pai. Na verdade, trata-se de rezar a vida e a história, de expor a existência pessoal e a missão, diante de Deus. É colocar diante do pai a própria vida, a vida do nosso povo, a vida do mundo, com toda a carga de sofrimentos, lutas, vitórias, desafios e conquistas. São momentos de louvor, agradecimentos, e súplicas, mas sempre algo muito concreto, humano e humanizante, que brota a partir de algo vivido, sofrido, partilhado, porém, carregado de sinais de esperança. É desse modo que aparece a experiência de Deus, a espiritualidade e sobretudo a oração, na Bíblia.