domingo, 27 de maio de 2012

Shangri-la dos tolos



É duro viver na sociedade de ególatras e cegos.
O outro não é mais extensão do outro.
Eu não vejo mais o outro como o outro; o outro é apenas um obstáculo a mais em minha vida, seja na fila do banco, no ônibus cheio, na disputa pelo leito hospitalar, no vestibular, no trânsito…
O culto ao eu num país de pobres é algo extremamente cruel.
‘Eu’ estando bem, está tudo bem; o resto não tem nada a ver comigo.
Carrego comigo a falsa ilusão que achei o meu shangri-la, e tudo que estiver fora dele precisa se adaptar a mim para que as portas se abram.
A noção de excluído não existe em minha cabeça.
Tudo que tenho, fiz por merecer.
Vivo numa sociedade livre, e todo mundo tem as mesmas chances que eu.
Só não cresce quem não quer, esse é o ponto principal do meu discurso egoísta.
O discurso fica cada vez mais arraigado em mim; cada vez cultuo mais minha capacidade de ter ‘vencido’ na vida, enquanto os outros, os preguiçosos e vagabundos não fizeram por merecer.
shangri-la

É assim que penso, assim educo os meus filhos.
E explico a eles que os que se dizem excluídos não passam de fracassados, pessoas que gostam de viver assim e não fazem questão alguma de mudar isso.
Enquanto vivo cheio de felicidade em meu mundo ilusório, a realidade começa a bater com força nas portas do meu shangri-la, o mundo imaginário dos tolos.
As trancas começam a ceder.
O mundo real não é o que eu penso.
E o outro é extensão da minha vida…
Quer eu queira ou não.

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