quarta-feira, 5 de outubro de 2011

HISTÓRIA DOS TRANSPLANTES DE ORGÃOS

 




Durante muitos anos os médicos tentaram substituir um órgão doente de um ser humano por um outro de um animal parecido , como o porco ou o macaco, mas tal substituição matava o paciente. Tentaram depois órgãos retirados de seres humanos acabados de falecer mas também aqui o corpo do doente reconhecia que aquele órgão lhe era estranho.
Era a rejeição do tecido estranho do doador por causa do sistema imunológico do receptor que reconhecia que aquele não lhe pertencia.
O sistema imunológico é como um exército, constantemente em guarda contra qualquer invasão de bactérias, vírus ou outras substâncias potencialmente perigosas. Quando o tecido de um doador é colocado dentro do corpo de outra pessoa, este exército imunológico o vê como um invasor e inicia uma batalha. Os glóbulos brancos do sangue atacam e destroem o tecido desconhecido pelo processo chamado de rejeição . Tal já não ocorria quando o órgão do doador era de um irmão gémeo idêntico ou verdadeiro. A semelhança genética das duas pessoas impedia a reacção imunológica. O cirurgião, Joseph E. Murray, utilizou este facto quando, em 1954, realizou com êxito o seu primeiro transplante de rins entre gémeos idênticos , no Hospital Brigham and Women em Boston.A cirurgia do Dr Murray foi um progresso importantíssimo. Porém não era uma solução, já que muito poucas pessoas têm um gémeo idêntico com quem contar para a doação de órgãos.
No final dos anos 60, os médicos descobriram uma maneira de realizar transplantes entre pessoas que não fossem parentes, através da supressão da reacção imunológica do receptor, com medicamentos chamados imunossupressores, mas mesmo assim surgiam problemas pois esses medicamentos eram altamente tóxicos e o risco de infecção aumentava exponencialmente o que fazia com que a maioria dos pacientes de transplantes não vivessem muito após a operação.
Como é próprio do ser humano não desistir perante adversidades, nos anos 80, os medicamentos anti-rejeição melhoraram tanto que a cirurgia de transplante tornou-se rotineira e bem menos arriscada do que havia sido nas décadas anteriores. As taxas de sobrevivência aumentaram, tendo os cirurgiões desenvolvido os processos de transplante de órgãos essenciais, como coração, rins, fígado e pulmões. Estes êxitos levaram os médicos a pensar em órgãos "não essenciais" e assim no final dos anos 90, foram realizados os primeiros transplantes de mão, com sucesso e, neste ano de 2011, um transplante de face.
Mas falemos de um outro transplante que deu brado em todo o mundo, há mais de 40 anos.
O coração de uma pessoa morta palpitou pela primeira vez no peito de outro humano às 5h25 de 3 de Dezembro de 1967, na África do Sul. O feito foi realizado no hospital Grote-Schuur, na Cidade do Cabo e foi bem sucedido. O chefe da equipe era o professor Christiaan Barnard, então com 44 anos de idade.( 1923- 2001)
O paciente foi Louis Waskansky, de 53 anos. O órgão transplantado por Barnard e sua equipe, numa operação de 5 horas, era de uma jovem de 25 anos, que tinha morrido num acidente. Waskansky faleceu 18 dias depois da cirurgia histórica, em consequência de uma infecção pulmonar pelas razões atrás referidas e que voltamos a citar: os medicamentos então usados para combater a rejeição do organismo reduziram muito o sistema imunológico do paciente.
Um mês depois da operação espectacular, Barnard fez o segundo transplante de coração e desta vez com grande sucesso: o dentista Philip Blaiberg viveu um ano e sete meses com o coração novo. Estes transplantes não podem ser considerados puras experiências ,já que os doentes transplantados teriam apenas alguns dias de vida se o não fizessem.
A notícia do transplante propagou-se por todo mundo como acontecimento revolucionário, embora há muito tempo se transplantassem rins e córneas .
Em alguns países o transplante do coração foi uma coisa inconcebível, devido a factores religiosos dominantes como a crença de que o coração não era um órgão como os demais, mas o lugar da alma, o núcleo humano, o centro da personalidade.
Barnard a estas críticas respondeu:
"A partir de um determinado momento, a gente é apenas um pesquisador e tem que se ater ao facto de que o coração tem apenas a função de bombear o sangue. Um transplante de coração não é mais do que um transplante de rins ou de fígado".
Como já por duas vezes dissemos o grande problema na época era a rejeição. Um organismo defende-se contra todo e qualquer corpo estranho que lhe é implantado
Na actualidade, a rejeição orgânica está bastante reduzida, graças ao efeito de medicamentos desenvolvidos especialmente com esse fim e assim a taxa de mortalidade situa-se abaixo de 10% no primeiro ano depois do transplante .
E o que se passa em Portugal a nível de transplantes? Para responder a esta pergunta vamos socorrer-nos de uma notícia saída há meses no Diário de Notícias.
Portugal é o país líder mundial no transplante de fígado. De acordo com os dados da Newsletter Transplant, uma publicação da Organización de Transplantes e Conselho da Europa, foram realizados 25,8 transplantes hepáticos por milhão de habitantes em 2008. Ao todo, foram transplantados 274 portugueses que precisavam de um fígado.
Maria João Aguiar, coordenadora nacional das unidades de colheita da Autoridade para os Serviços de Sangue e da Transplantação (ASST), conta ao DN que é a primeira vez que o País é líder mundial, "à frente de países como os Estados Unidos (com 20,8) e Espanha", que está em segundo lugar com uma taxa de 24 transplantes por milhão.
Morais Sarmento, o presidente da Sociedade Portuguesa de Transplantação, salienta o benefício que esta subida tem para os doentes: "Geralmente, estes casos são de situações urgentes e é sempre bom saber que há mais órgãos para quem precisa." Um exemplo é o da doença dos pezinhos, muito típica de Portugal, "em que os doentes beneficiam muito com o transplante". Melhora-se a condição de vida de muitos e salvam-se mais vidas com o aumento do transplante.
A subida na transplantação hepática, que tem sido sustentada ao longo dos últimos anos, também se fez sentir noutras áreas, nomeadamente no transplante renal. Se apenas tivermos em conta os transplantes com órgãos retirados de dadores cadáveres, Portugal está em segundo lugar a nível mundial, com uma taxa de 44,8 cirurgias por milhão de habitante. À frente, está Espanha com uma diferença reduzida em relação a Portugal: 44,9.
Em Julho deste ano de 2011 chega a notícia de em Espanha ter sido transplantado um par de pernas..
O programa de dador vivo, em que cônjuges e familiares podem dar um órgão (fígado ou rim), também está a aumentar no País. Somando os dois tipos de colheita (em dador vivo ou cadáver), Portugal fica com uma taxa de 49,4 transplantes renais, apenas ultrapassado pela Noruega e Chipre, com taxas de 58 e 83. Estes dois países apostam sobretudo na dádiva em vida, que é responsável por mais de metade da colheita.
No entanto em Setembro de 2011 e por razões orçamentais impostas pelo FMI, o nosso país está reduzir o número de transplantes o que já motivou muitas críticas nos meios médicos.

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